Em busca da fraude
Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (9/6), no âmbito das investigações sobre o golpe de Estado de janeiro de 2023, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi a responsável por apresentar Bolsonaro ao hacker Walter Delgatti.
Mauro Cid durante seu interrogatório no STF, nesta segunda-feira
Segundo Cid, o encontro ocorreu em 2022, após as eleições presidenciais, e o tema era a suposta fraude nas urnas eletrônicas.
“Foi uma vez no café da manhã, o hacker estava levantando hipóteses de como teria sido feita a fraude (nas urnas) e como seria descoberta. Ao final da reunião, (Bolsonaro) pediu para o general Paulo Sergio (Nogueira) receber esse hacker com a Carla Zambelli. Acho que foi o coronel Câmara quem fez essa interlocução.”
Segundo o tenente-coronel, ninguém do governo Bolsonaro conseguiu provar a fraude e foram levantadas “estatísticas de dados do TSE para tentar achar alguma coisa que levou à fraude, mas não se conseguiu comprovar nada”.
A primeira pergunta a Cid no interrogatório, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, foi sobre a veracidade da denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República contra ele. “Presenciei grande parte dos fatos, mas não participei deles”, respondeu.
Segundo Cid, Bolsonaro recebeu uma minuta com teor golpista e “enxugou” o documento, removendo a prisão das autoridades anteriormente listadas, exceto a do próprio Alexandre.
Cid disse ter participado de “duas ou três reuniões” em que foi lida a minuta para os comandantes das três Forças Armadas. O texto mencionava “possíveis interferências do STF e do TSE no governo Bolsonaro e nas próprias eleições. A segunda fase (da minuta) entrava no estado de defesa, no de sítio e na prisão de autoridades, para refazer as eleições”.
Além disso, o tenente-coronel confirmou ter recebido do general Braga Netto, então ministro de Estado, dinheiro em uma sacola de vinho para ajudar a manter os acampamentos montados em frente aos quartéis-generais do Exército após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Por outro lado, o ex-ajudante de ordens disse não ter conhecimento do plano Punhal Verde e Amarelo, que resultaria nos assassinatos de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e de Alexandre.
Ramagem interrogado
Em seguida, após o delator, foi a vez do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). O parlamentar, que atuou durante o governo Bolsonaro como chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), negou a acusação da PGR.
“Entendo que não há veracidade nas imputações de crimes”, disse ele. Além disso, Ramagem negou ter usado a máquina da Abin para monitorar autoridades e afirmou não ter tocado no assunto das urnas eletrônicas durante a campanha para se tornar deputado.
O ex-diretor da Abin disse ser falso que ele tenha enviado um documento sobre fraude nas urnas eletrônicas e sustentou que os arquivos encontrados no seu celular a respeito disso eram pessoais e jamais foram repassados.
Mais interrogatórios
O STF continuará os interrogatórios da ação penal nesta terça-feira (10/6), às 9h, com o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha.
Nessa fase, todos os oito réus do Núcleo 1 da denúncia da PGR serão questionados. Além de Almir, faltam ainda: Bolsonaro; Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional); Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa); e Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil e da Defesa).
AP 2.668